quinta-feira, 15 de maio de 2014

Karate fora do dojo

   Há uns dias atrás, no programa do Lago dos Tubarões, surgiu a seguinte situação: Um dos tubarões, empresários (supostamente) de sucesso, perguntou a um concorrente, senhor nervoso e inexperiente, se ele era agressivo. E qual não foi o meu espanto quando ele respondeu à pergunta dizendo apenas que era 3ºDan em Karate, uma das graduações mais altas. E como se isso não fosse mau o suficiente, todos os tubarões ficaram bem impressionados e disseram que ele devia era ter revelado aquilo logo no início...!

   Pois é, infelizmente esta continua a ser a imagem que o Karate tem para o público em geral. Não sou pessimista mas suspeito que se perguntasse a alguém na rua o que é o Karate, provavelmente ouviria algo do género:
Karate? Isso não é aquela coisa onde eles andam à pancada?
   Ok, talvez na melhor das hipóteses dissessem que é uma arte-marcial japonesa virada para a autodefesa mas, ainda assim, continuariam errados.

   Karate não é autodefesa. No máximo é defesa do próximo, daquele que não se consegue defender. Durante as aulas somos encorajados a avançar perante o perigo sabendo que temos alguém atrás que devemos proteger. Mas claro que isto não quer dizer que sejamos encorajados a sacrificar-nos irracionalmente. Responder de forma errada perante o perigo pode fazer mais mal que bem, agravando uma situação que outrora podia ter tido um desfecho pacífico. Além disso, se morrermos e aquilo que nos matou for atacar quem tentávamos proteger, então de que valeu o nosso sacrifício?
Avançar sempre, sim, mas de forma consciente.
   (Sei que nos dias de hoje todos acreditamos que vamos viver para sempre, e falar de morte transformou-se numa espécie de tabu, mas só quis passar a mensagem, espero que compreendam.)

   O Karate é uma arte-marcial, um caminho de auto-descoberta, uma forma de praticar o bem. Não é por acaso que Gishin Funakoshi escreveu que o Karate começa e acaba com respeito, que não existe primeiro ataque no Karate, que o Karate está do lado da justiça.

   Todos nós, praticantes e não só, temos um papel a cumprir ― Passar a verdade quando a mentira se faz ouvir. Intervir para corrigir aquilo que está errado. Ajudar todos os que precisam da nossa ajuda. Enfrentar o medo em todas as etapas da nossa vida ― Isto sim é Karate. E tem que ser praticado sempre, tanto dentro como fora do dojo.




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