terça-feira, 22 de abril de 2014

Exame

   Hoje foi dia de exame.
  Acordar cedo, como sempre, mas a ansiedade era outra. Toda a gente nervosa, sem saber o que dizer. Alinhar, saudação, baixar para seiza. Contar os pares e perceber com quem vamos ficar. Será bom? Será mau? Será que interessa? Ser chamado lá para a frente. O dojo parece enorme. Estão todos a olhar. Há máquinas fotográficas à espera. Pedem-nos uma técnica. Chudan o'tsuki. Saímos o melhor que podemos. O chão agarra, a respiração está incerta. Calma, calma. Calma. A mão sai sozinha e o corpo vai atrás. Calma. Sem pressas. Outro ataque, outra vida. Calma, tu sabes fazer isto. Mais um ataque, e virar para trás. Está a correr bem. Só mais um pouco. Só até à parede. Respira fundo. Mais uma técnica. Não é assim tão difícil. Já fizeste isto mil vezes nos treinos. E depois outra. Está a correr bem. Sentar e ficar nervoso pelos outros. Respirar fundo para ver se eles se acalmam. Ver os nossos erros neles. A confiança passar a dúvida. Será que correu realmente bem? O júri parece animado.
   Ser chamado para o kumite. Saudação. Baixar olhar respirar. Atacar devagar. O corpo reconhece os movimentos. Desta vez mais rápido, mais solto, mais fácil. Atravessar o oponente com o olhar. Achar que está a correr bem e vir o mestre dizer que nos esquecemos do contra-ataque...! Defender uma, duas, três vezes. Afinal não está bem. O mestre diz que não estamos a atacar com tudo o que temos, e claro que tem razão. "É preciso vir até aqui" diz enquanto estica a mão muito atrás do oponente. "Ir até aí? Então está bem." E assim começa o verdadeiro kumite, aquele onde as barreiras caiem e as almas podem compreender-se através do corpo. Não é preciso palavras, a linguagem aqui é outra.
   E depois a kata. A atitude é aquela, os movimentos estão lá. Sentir pequenas falhas mas a vontade de continuar faz-nos sempre passar por cima delas. E terminou. Saudação para o oponente que somos nós, saudação para o júri que nos ajudou tanto.

   Obrigado por tudo. E até já.



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