domingo, 19 de julho de 2015

Lótus

 É quando estamos mais em baixo que temos a oportunidade de fazer o maior Bem. É nessas alturas em que só apetece fechar-nos dentro de nós próprios que devemos lutar por abrir o coração e chegar aos outros. Se fizermos isso, se mostrarmos coragem ao Universo, os astros alinham-se e coisas boas começarão a acontecer.

 Isto acontece porque as coisas não são apenas boas ou más. No mal existe o potencial para o bem. O bem é apenas o mal que foi trabalhado, da mesma forma que a flor de lótus é apenas a lama que recebeu a luz do Sol.

 Esta é a centésima publicação deste blogue. Tal como a flor que surge da lama, também ele nasceu num dia menos bom.

 Espero que tenham gostado. Que venham mais cem!

sábado, 18 de julho de 2015

Comparações

   Uma das melhores formas de nos iludirmos é com comparações.

   Comparando-nos uns com os outros...
  • Este é melhor que eu a nível físico mas eu sou melhor a nível mental.
  • Este tem mais flexibilidade mas eu tenho mais resistência.
    Ou comparando os outros...
  • Este é cinto azul mas é melhor que aquele cinto castanho.
  • Aqueles entraram ao mesmo tempo mas um tem claramente mais jeito que o outro.
  O problema desta filosofia é que em tudo o que nos lembrarmos, haverá sempre alguém melhor e alguém pior que nós. É natural que assim seja. O que não é natural é comparar e ordenar pessoas com caminhos e necessidades diferentes. Já para não falar que há efeitos negativos reais nesta forma de pensar:

   Acharmos que os outros são sempre melhores que nós traz-nos inveja e baixa auto-estima.
   Acharmos que os outros são sempre piores que nós traz-nos arrogância e egocentrismo.

   Devemos parar de fazer comparações, mas quando são os outros a comparar-nos com outras pessoas, o caso fica mais complicado. É nestas alturas que devemos centrar-nos em nós próprios e agarrar com força os nossos valores. Não somos melhores nem piores. Somos quem somos. Somos diferentes.

Cada uma, um indivíduo percorrendo o seu Caminho

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Separação Corpo-Mente

   Cada vez mais vivemos uma separação entre o corpo e a mente. Gastamos a vida a encher a cabeça com informação, a treinar para sermos suficientemente bons a executar determinada tarefa (mas não para a questionar) e esquecemo-nos completamente do corpo. É por isso que comemos o que faz mal mas sabe bem, sacrificamos a saúde em prol do trabalho, e vamos empurrando o exercício físico para quando houver tempo. Vemos o corpo como um veículo que apenas serve para transportar a mente e não como uma união corpo-mente-espírito capaz de tudo.


   Claro que depois há o outro extremo, igualmente mau, da adoração do corpo a descuido total da mente. Todas as fotografias no ginásio, todos os batidos de proteínas, todo o exercício desmedido são provas disso. Nem oito nem oitenta.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Reflexo do mestre

   Quando Mestre Murakami encontrava um erro técnico num karateca, costumava perguntar quem era o seu instrutor, já que o mais certo era encontrar o mesmo erro nele também. Confrontando o instrutor, pedia-lhe que se corrigi-se já que estava a transmitir o erro aos próprios discípulos.
   

   Quer queiramos admitir, quer não, somos o reflexo dos nossos mestres, e há uma parte importante deles que vive em nós. É esta corrente dourada que nos une ao longo das gerações e nos aproxima dos nossos antepassados.

   Quanto estivermos a dar aulas, é essencial oferecermos o nosso melhor, pois não são apenas os alunos que beneficiarão do nosso esforço, mas os alunos que eles vão ter, e todos os outros que ainda estão para vir.



domingo, 12 de julho de 2015

Xadrez

   Existe uma semelhança clara entre kumite e xadrez.
  • Devemos mover-nos rápido para conquistarmos primeiro as posições no centro da batalha.
  • Tudo o que se afastar demasiado do centro perderá força.
  • Não podemos abrir a defesa ou será justamente por aí que o oponente entrará.
  • Temos que estar constantemente alerta para ataques inesperados.
  • É preciso pensar várias jogadas à frente.
  • Se avançarmos para um ataque de alto-risco, devemos assegurar-nos que é eficaz.
  • Inteligência e posicionamento vence a força.
  • A cada acção, o nosso oponente revelar-se-á.
  • Muitas vezes a melhor forma de terminar é com um empate.


sexta-feira, 10 de julho de 2015

Mitori geiko


   Existem muitas formas de treinar, e só por estarmos lesionados, não quer dizer que devamos ficar parados. Mitori geiko (見取り稽古) é uma forma de treinar que envolve a observação intensa e profunda do treino de outrem. Exteriormente é apenas isto, ficar parado a observar, mas o que se passa internamente é bem mais desafiante. Para melhor aproveitarmos o treino do nosso companheiro, devemos ligar-nos tão intimamente a ele que é como se fossemos nós próprios a executar cada movimento. Os erros dele são os nossos erros; as suas forças, as nossas forças. A ligação deve ser mental, emocional e espiritual. No final, é como se ambos usássemos o mesmo corpo e evoluíssemos com ele.



sexta-feira, 3 de julho de 2015

Repetição cega

   Diz-se que a repetição leva à perfeição, mas será sempre este o caso? Se não houver "alguém de fora" que oriente, mais tarde ou mais cedo surgiram erros que, através da repetição cega, acabaremos por incorporar. Para combater esta tendência, devemos estar constantemente atentos e com espírito crítico introspectivo, especialmente se já treinarmos há vários anos.

   Mais difícil do que corrigir alguém que errou, é corrigir alguém que errou mas, por já ter incorporado o erro, acredita estar certo.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Senpai

   Num dojo, existe o sensei, o senpai e os kohai. Dada a ordem pelo sensei, todos deverão segui-la em simultâneo, mas existe uma hierarquia que deve ser respeitada. Vejamos o seguinte exemplo: Se o sensei  pede uma kata onde temos dificuldade, é o dever do senpai ir ligeiramente à frente dos kohai, de forma a conduzi-los no caminho certo. Não deverá ir demasiado à frente e muito menos atrás. De certa forma, o sensei é a mente que coordena, o senpai, a mão que executa, e os kohai, o corpo que a segue. Shin Gi Tai. Primeiro a mente, depois a técnica e, por fim, o corpo.


   Ser senpai acarreta desafios novos. Não basta executar correctamente uma técnica, com todos os desafios que isso acarreta. Um bom senpai está disponível, atento, ligado tanto ao sensei como a cada um dos kohai, especialmente aos mais novos. Se quiséssemos andar e uma perna ficasse para trás, certamente que daríamos por isso. Assim deve ser o grupo que avança junto numa kata. Todos se movem em harmonia, e se alguém ficar para trás, o senpai deve ser o primeiro a abrandar o ritmo para que todo o grupo faça o mesmo, e quem ficou para trás os possa alcançar.

   O bom senpai não enfrenta apenas as suas dificuldades; ele enfrenta as dificuldades do grupo inteiro.