segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Bloqueio mental

   As palavras que usamos (e pensamos) têm força e modificam a realidade do nosso futuro. Dizer que não conseguimos é meio caminho andado para, de facto, não conseguirmos. Mas claro que normalmente não somos assim tão determinados.

   Sensei - "É preciso mudar a lâmpada do dojo, podes tratar disso?"

   Aluno - "Pois é, já estamos a treinar às escuras há algum tempo, então vou ver se consigo arranjar tempo para tratar disso para a semana."

   E claro que para a semana o dojo continuará às escuras, e porquê? Porque subjacente a esta forma de pensar está uma teia racional complexa e gigantesca que enreda e impede qualquer forma de acção. Pensar em fazer algo não é a forma mais rápida de a fazer. A forma mais rápida é simplesmente fazê-la! É levar as mãos à frente, avançar de corpo e alma e fazer o que tem que ser feito!


   Se conseguimos ou não fazer um pontapé, se o queremos fazer, se o devemos fazer, como exactamente o vamos fazer... entrar nesta forma de pensar é entrar numa espiral que muito provavelmente não nos levará a lado nenhum, e certamente não nos fará lançar o pontapé. Se só a prática e a repetição levam à perfeição, então de que serve pensar tanto?

Já dizia o mestre Yoda. Tentar não, Fazer ou não fazer. Não há tentar.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Mais do que a soma das partes

   O cavalo e o humano. Separados, são impressionantes. Juntos, dão origem a um terceiro elemento. E é este elemento, esta ligação, que deve ser trabalhada impiedosamente no karate. Não apenas o corpo, nem apenas a mente.

"O todo é maior que a soma das suas partes."

   Se o cavalo for o corpo e o cavaleiro a mente, a ligação de que falo manifesta-se, por exemplo, na capacidade de movermos o corpo sem o forçar; de saltar, deslizar e voar sem as articulações se oporem. Mas a união das duas partes é mais do que uma saber dominar a outra. As duas têm que trabalhar em conjunto, o cavalo e o cavaleiro, o corpo e a mente. Temos que ouvir o que o corpo tem para dizer já que é ele que nos mostra as técnicas corretas, mas não podemos deixar que seja ele a dominar-nos. Às vezes é preciso um pouco de incentivo para o cavalo se mexer. Mas quando ele já está habituado à nossa voz e já sabe saltar sozinho, então a harmonia foi alcançada, e o verdadeiro trabalho pode começar.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tocar o limite

   Já escrevi sobre os limites no passado mas nunca tinha chegado tão perto deles como no treino de hoje. Por cada exercício que estava habituado a fazer, tive que fazer três ou quatro vezes mais, durante mais tempo, e indo mais longe em cada um deles.
 
   E isso trás consequências muito interessantes.
   
   Primeiro vem o cansaço e as dúvidas - será que vou conseguir continuar? - Depois vem a dor e a rigidez - tens que parar se não vais-te lesionar. - E era aqui que eu normalmente ficava. Nesta zona de manutenção controlada de dor. Mas afinal há pelo menos mais dois estágios.
   
   Se o exercício for de contracção muscular contínua como, por exemplo, quando mantemos o zenkutsu-dachi durante muito tempo, a dor transforma-se em calor, e o calor transforma-se numa sensação quase indescritível: é ao mesmo tempo fria, luminosa e maciça. E depois disso não sei o que vem...

   Mas hoje o exercício era outro. Hoje tínhamos que nos mover sempre, e a seguir à dor e à contracção vem um estado novo e agradável de relaxamento e naturalidade. O corpo simplesmente já não tem mais força para se manter contraído por isso ondula e desliza como água. As costas parecem uma mola que suporta os braços e os braços voam separados do corpo. Não existe cabeça nem ombros, e as pernas estão apenas lá, movendo-se sozinhas e falhando mais vezes de que eu gostava de admitir.

   E o que virá depois? Ainda não sei, mas pareceu-me ter visto algo luzir no horizonte. Talvez da próxima vez consiga aventurar-me um pouco mais longe.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Shin Gi Tai


Shin - Gi - Tai
   Tudo o que fazemos dentro (e fora) do dojo devia seguir o mesmo princípio:

心, lê-se shin e quer dizer mente, coração, espírito.
技, lê-se gi e quer dizer técnica, arte.
体, lê-se tai e quer dizer corpo, físico, postura.

   Primeiro a mente, depois a técnica e depois o corpo. Sempre nesta ordem e com um grau decrescente de importância.

   Fortalecer apenas o corpo não serve de muito se depois não soubermos como ou quando usá-lo. Procurar a perfeição técnica é preferível mas também não basta porque nos deixa vazios, como robôs capazes apenas de executar movimentos perfeitos mas depois falta-nos o que mais importa: a ligação com o outro, a coragem, a paciência. Tudo isto é Shin, e é o mais difícil de treinar.

   Como treinar a coragem? A paciência? A capacidade de harmonizar? Talvez seja uma boa ideia olharmos para cima e respirarmos fundo.

   Mas se quisermos simplificar a aplicação deste princípio basta-nos ver um gedan-barai bem feito. Primeiro olhamos para o adversário, depois preparamos as mãos em hikite e só depois é que movemos as pernas. Shin - Gi - Tai.