terça-feira, 27 de outubro de 2015

Treinar o invisível

   O dojo está cheio e o treino difícil. O sensei pede mais uma série de pontapés e subitamente apercebemo-nos que está a entrar frio, que o nó do cinto ficou mal feito, e os miúdos estão demasiado irrequietos. Talvez fosse melhor dizer a alguém para fechar a janela, ou ajeitar o cinto, ou parar para meter os miúdos na linha. Podemos fazer isso, claro, ou podemos aguentar e continuar. O stress aumenta, o cinto cai, os miúdos gritam, e ainda assim continuamos. Esta sensação que nos atormenta é idêntica à que sentimos durante um esforço físico intenso. É a mesma coisa, só que num plano que não vemos. Quando os músculos se queixam, sabemos que se continuarmos, estaremos a fortalecê-los; e o mesmo se passa com a mente. Quanto mais suportamos, mais conseguimos suportar. Até chegar ao dia em que estamos tão serenos que pequenas coisas como janelas abertas, cintos caídos e miúdos a gritar simplesmente já não nos afectam.


   Esta filosofia de procura do mestre em cada experiência é, para mim, essencial na prática de Karate:
  • Tudo o que te incomoda ensina-te a ter paciência.
  • Todos os que te abandonam ensinam-te a caminhar com os teus próprios pés.
  • Tudo o que te irrita ensina-te compaixão e perdão.
  • Tudo o que tem poder sobre ti ensina-te a recuperar esse poder.
  • Tudo o que odeias ensina-te a amar incondicionalmente.
  • Tudo o que temes ensina-te coragem para vencer o medo.
  • Tudo o que não controlas ensina-te a aceitar e largar.
(Frases traduzidas de um texto de Jackson Kiddard)

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