Quando fazemos kumite com alguém menos graduado, é nosso dever ajudá-lo. Claro que isto não significa que devamos desviar a mão para não o atingir, ou descuidar a defesa para que seja ele a atingir-nos. Mas ajudar também não pode ser atacar com força excessiva porque isso só destruiria o corpo e a vontade de continuar a treinar.
O ideal seria atacar verdadeiramente, de queixo erguido, controlando a força no último instante para que toda a nossa intenção (e não a nossa força) o atinja, e ele sinta que o ataque foi justo e verdadeiro. Mas até aqui parece existir uma certa subtileza. Se um cinto preto fizer exactamente isto; dar o seu máximo na intenção e no controlo, o resultado não será tão útil para o cinto branco como seria se ele tivesse baixado o seu nível de forma a estar apenas ligeiramente acima e assim conseguir apresentar um bom desafio.
No fundo é como se estivéssemos a pedir ao praticante mais novo para subir para as nossas costas. Se não nos baixarmos nem um pouco, é normal que ele desista e se vá embora, porém, se nos deitarmos no chão para ser fácil subir, isso não servirá de nada porque ele não conseguirá ver muito mais além. Temos de olhar para ele e perceber qual é o seu nível a fim de nos colocarmos apenas ligeiramente acima dele, incentivando-o para não desistir.
E seguindo esta ideia, deixo aqui uma história real que a ilustra na perfeição:
Há uns anos atrás chegou a França uma comitiva japonesa composta pelos melhores praticantes de Kendo do Japão, e o seu objectivo era avaliar o nível dos praticantes franceses. Entre os praticantes japoneses havia um rapaz de dezasseis anos que foi, naturalmente, colocado a treinar com as crianças enquanto os praticantes mais velhos se defrontavam. Ele a principio parecia que estava com dificuldades mas no final de cada confronto arranjava sempre forma de vencer. E quando as crianças foram descansar, ele foi treinar com os jovens da mesma idade, e aí a história repetiu-se. Quando ele parecia que estava quase a perder, conseguia sempre dar a volta e vencer no final. E quando os jovens foram descansar, ele foi treinar com os adultos. Nessa altura já os franceses começavam a perceber que alguma coisa não batia certo porque ele conseguia ganhar sempre. Ora, no final o rapaz foi desafiado pelo próprio campeão francês. O combate foi renhido, mas sempre que o campeão parecia que ia vencê-lo, o rapaz conseguia fazer algo para lhe dar a volta, até que no final acabou com um empate. Os dois praticantes saudaram-se e nesse instante aconteceu o inesperado: a máscara do campeão caiu ao chão, coisa que é impossível de acontecer porque elas estão firmemente presas com vários nós. Resultado: o miúdo andou a brincar com ele e a desatar-lhe a máscara durante o combate e só não venceu por uma questão de respeito já que isso seria humilhante para o campeão.
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