quarta-feira, 16 de abril de 2014

Encarar o infinito

   Se há coisa que depressa se descobre no karate é que os nossos olhos são mais um obstáculo que outra coisa. Confiamos demasiado neles quando olhamos para o chão enquanto treinamos, para as pernas para ver se estão na posição certa, para o oponente para saber quando devemos sair para a defesa, mas o problema dos olhos é que eles gostam de se focar num único ponto, e o nosso verdadeiro alvo está no infinito.

Caminhar sempre em direcção ao infinito

   A limitação da visão acontece não só no combate mas em tudo o resto. Se estamos a fazer alongamentos e quisermos chegar até aos pés, o mais provável é um dia conseguirmos lá chegar, e nesse dia agarramo-nos a eles com toda a força pensando que finalmente conseguimos - apesar de continuarmos apenas ali, agarrados aos pés. Pelo contrário, se o nosso objectivo não for os pés, nem sequer a parede, mas uma imagem mental infinitamente mais longe, então nunca nos contentaremos em chegar apenas aos pés, e estaremos sempre a tentar chegar mais longe. Acho que saber viver com esse "caminhar eterno sem nunca chegar ao destino porque o que importa é o caminho" é uma das coisas que mais me atrai no karate. O dia em que chegar ao dojo e a minha mestra me disser que cheguei ao fim do caminho, que já sei tudo o que há para saber e que não tenho mais nada para melhorar, será um dos dias mais tristes da minha vida.


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