segunda-feira, 28 de abril de 2014

Viagem a um dojo diferente

   No outro dia fui treinar a um dojo diferente. O estilo era o mesmo e já conhecia o mestre, mas tudo o resto foi diferente. Sem querer simplificar o que não pode ser simplificado, foi como provar um bolo conhecido feito com uma receita diferente. Os ingredientes são outros mas a ideia é a mesma. E ver uma receita nova foi mesmo muito enriquecedor. Cada aluno tem uma cor, uma nota musical, um sabor diferente, e apesar de saber que só o facto de estar lá mudei um pouco a receita original, gostei imenso do que encontrei.
   Talvez esteja a dizer um grande disparate mas acho que assistir uma vez por outra a uma aula de outro mestre seja uma experiência boa e aconselhável. Talvez não no início, em cinto branco, amarelo ou verde, mas lá mais para a frente, porque não? Acho que treinar sempre com o mesmo mestre é muito bom, cria-se um laço fortíssimo entre mestre e discípulo, ele sabe as nossas manias, onde erramos, onde somos mais fortes, consegue desafiar-nos justamente onde e quando precisamos, mas com essa proximidade surge também algo mais - uma certa habituação. Por mais correcta, justa e bem intencionada que seja uma mensagem, se a ouvirmos repetida mil vezes acabamos por ficar resistentes a ela. Mas se essa mesma mensagem for enviada por uma pessoa diferente, parece ganhar um impacto maior. "Ah, se esta pessoa diz o mesmo que o meu mestre então é porque deve ser mesmo verdade." Não é justo para o nosso mestre, aquele que teve o trabalho de repetir mil vezes a mesma coisa, mas infelizmente acho que é assim que costuma ser.
   Mas também sou da opinião que esta viagem deve ser feita com bastante calma e serenidade. Felizmente que não me aconteceu, mas imagino que deve ser muito constrangedor estar num treino guiado por alguém que começa a insistir para passarmos a fazer algo que o nosso verdadeiro mestre sempre nos disse para não fazermos.

   Viajar é bom, abre-nos os olhos para novos horizontes, mas temos que ter uma Casa a onde regressar. Sem ela vamos andar perdidos, sempre a mudar, sem nunca encontrarmos uma forma à qual possamos chamar nossa.


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